O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos
O poeta em que me encontro e me completo...sempre.
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7 comentários:
Voltaste!!
E voltaste a arranhar as almas visitantes....
Cuidado com o Alvarinho... é um vampiro psíquico!:P
"Hoje comi o Álvaro de Campos
E com ele comi a sua fome.
Tive uma ligeira indigestão
Mas com uma baforada de ópio
Fiquei numa tranquilidade enorme.
Ah, tudo querer fazer e sentir…
Tudo, tudo, tudo querer querer!
E na ressaca do festim, ficar
O corpo enfermo e a alma pesada
De tudo fumar, de tudo beber…"
(também) gosto muito deste:
Se penso mais que um momento
Na vida que eis a passar,
Sou para o meu pensamento
Um cadáver a esperar.
Dentro em breve (poucos anos
É quanto vive quem vive),
Eu, anseios e enganos,
Eu, quanto tive ou não tive,
Deixarei de ser visível
Na terra onde dá o Sol,
E, ou desfeito e insensível,
Ou ébrio de outro arrebol,
Terei perdido, suponho,
O contacto quente e humano
Com a terra, com o sonho,
Com mês a mês e ano a ano.
Por mais que o Sol doire a face
Dos dias, o espaço mudo
Lembra-nos que isso é disfarce
E que é a noite que é tudo.
Fernando Pessoa
prefiro o Reis. e o fernando pessoas em si. =) o alvaro de campos, é impertinente no modo cru como diz as coisas, msm que sejam sentidas. m gosto de uma ode dele lol
Álvaro de Campos é aquela personagem que esconde e conhece tudo aquilo que somos nos momentos em que nos faltam as palavras.
bj
Magnífico!
beijocas
...muitoooo cansaçoooo :))
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