sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

O poeta em que me encontro e me completo...sempre.

7 comentários:

m@tix disse...

Voltaste!!
E voltaste a arranhar as almas visitantes....

Valter Ego disse...

Cuidado com o Alvarinho... é um vampiro psíquico!:P

"Hoje comi o Álvaro de Campos
E com ele comi a sua fome.
Tive uma ligeira indigestão
Mas com uma baforada de ópio
Fiquei numa tranquilidade enorme.

Ah, tudo querer fazer e sentir…
Tudo, tudo, tudo querer querer!
E na ressaca do festim, ficar
O corpo enfermo e a alma pesada
De tudo fumar, de tudo beber…"

R. disse...

(também) gosto muito deste:

Se penso mais que um momento
Na vida que eis a passar,
Sou para o meu pensamento
Um cadáver a esperar.

Dentro em breve (poucos anos
É quanto vive quem vive),
Eu, anseios e enganos,
Eu, quanto tive ou não tive,

Deixarei de ser visível
Na terra onde dá o Sol,
E, ou desfeito e insensível,
Ou ébrio de outro arrebol,

Terei perdido, suponho,
O contacto quente e humano
Com a terra, com o sonho,
Com mês a mês e ano a ano.

Por mais que o Sol doire a face
Dos dias, o espaço mudo
Lembra-nos que isso é disfarce
E que é a noite que é tudo.

Fernando Pessoa

Fipa disse...

prefiro o Reis. e o fernando pessoas em si. =) o alvaro de campos, é impertinente no modo cru como diz as coisas, msm que sejam sentidas. m gosto de uma ode dele lol

a.m disse...

Álvaro de Campos é aquela personagem que esconde e conhece tudo aquilo que somos nos momentos em que nos faltam as palavras.

bj

Blueminerva disse...

Magnífico!


beijocas

Parapeito disse...

...muitoooo cansaçoooo :))