sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Insónia

O silêncio entra no quarto, sem bater. Vem de mansinho, rente ao chão, soprando o pó do soalho. Roça os lençóis e deita-se a meu lado. A noite pendura o fato de estrelas e fica só, com a lua, num namoro apagado. A luz que vem do televisor faz-me doer os olhos, faz-me querer arrancá-los, faz-me não querer sentir. Apago o aparelho, o silêncio torna-se escuro e incomodativo. Ouço cada passo dos vizinhos, entregues à insónia. Ouço cada suspiro, cada bafo no cigarro que fumam, cada golo da água que bebem. Olho para o relógio e pergunto-me se avariou. Os ponteiros estão pesados, arrastam-se a custo pelos números.
Aos poucos, o silêncio parece adormecer, baixa a sua guarda e deixa-me livre o caminho. Elejo a almofada como meu refúgio. Entrego-me ao sono que me acolhe sem perguntas, sabe que o mereço. No que pareceu ser o minuto seguinte, uma luz forte obrigou as minhas pálpebras a erguerem-se, a custo e revoltadas. Olhei o quarto em redor, cada centímetro iluminado. O meu olhar deslizou para a janela e lá estava. Era o sol, chegou sem pedir licença.

Nenhum comentário: