sábado, 24 de novembro de 2007

Before Sunset de Richard Linklater


O amor é talvez o tema mais abordado no cinema, mas nem sempre (ou quase nunca) retratado de forma realista e natural. Richard Linklater concebeu uma história que há medida que se vai desenrolando deixa de ser ficção e começa a fazer parte dos próprios espectadores, identificando-nos com as personagens, que mais parecem amigos íntimos que nos confiam segredos. Before Sunrise é, na verdade, uma pérola que escapou à dissimulação e artifício, tudo surge espontaneamente, num ambiente magicamente realista e sincero. Depois do final perfeito e inteligente de Before Sunrise fica um vazio que o cinismo ou romantismo de cada um se encarregou de preencher. A notícia de uma sequela não foi recebida de braços abertos pelos verdadeiros admiradores do filme, temia-se a perda do encanto e da naturalidade, mas especialmente temia-se a possibilidade de macular algo tão perfeito. Mas Linklater quis responder-nos às questões e encontrou para isso a mais bela maneira de o fazer. Nove anos depois de nos presentear com um diamante cinematográfico, que se tornou para alguns filme de culto, Linklater não desiludiu os receosos, longe disso. O ambiente de cumplicidade entre Julie Delpy e Ethan Hawke, co-escritores do argumento, mantém-se, embora uma maior maturidade se faça notar ao longo dos diálogos. Às questões sobre incerteza, medos, sonhos de Before Sunrise junta-se-lhes em Sunset questões sobre paternidade, responsabilidade, tempo perdido.

E se nos despedimos do primeiro filme, com uma visita pelos lugares visitados por Celine e Jesse, aqui, é no início que espreitamos os locais por onde ambos confirmarão a sua ligação e cumplicidade. Ao confiarem ao outro os seus mais íntimos segredos, percebem que o desejo tão forte de “carpe diem” não é satisfeito e a sua sede de viver vai-se desvanecendo à medida que o tempo passa nas suas vidas. Inúmeras questões são levantadas ao longo destes 80 minutos, mas sobretudo, dúvidas sobre amor e sobre a vida, que se revela curta demais para desperdiçá-la em erros e hesitações.
Se já em Sunrise pertencíamos, de certa forma, à conversa das personagens, como se discutindo com elas os temas abordados, neste Sunset é como se morássemos no imo de cada um deles, conseguindo sentir cada desabafo e confissão feita por um ou outro e até sentir o frio no estômago e o turbilhão de pensamentos e emoções, quando se faz o silêncio ao subirem as escadas…
O final não é menos genial que o de Sunrise, o que só contribui para que o filme dure muito para além do final dos créditos. O filme, a história, os diálogos, as personagens, o cenário parisiense estão em nós e as questões levantadas nessas conversas são como tatuadas na nossa mente. Um filme para saborear, para reflectir sobre ele, mas mais que isso, para vivê-lo.

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