sábado, 24 de novembro de 2007

The Aviator de Martin Scorsese


Será possível viver levando a vida de sonho em sonho? Será impossível descansar enquanto os houver para realizar? É nesse limbo, que Scorsese nos integra, o mundo soalheiro dos sonhos com a dura realidade. “The Aviator” é, de certo, um dos mais sensíveis e doloridos filmes de Scorsese, que regressa em grande, em toda a sua plenitude, afirmando-se um dos mais talentosos realizadores de sempre. “The Aviator” é Howard Hughes. É nele que o foco de luz se acende, é no seu peito que sentimos e no seu desespero obsessivo que sofremos. Cada sonho ambicioso de Hughes era como o horizonte, que se afasta à medida que caminhamos para ele, também os seus sonhos realizados eram o início de muitos outros. Hughes atirou-se às suas paixões, cinema e aviação, como nenhum outro, com uma intensidade e veemência notáveis. Mas se o acompanhamos nas suas conquistas - realização de filmes, construção de aviões – também assistimos ao seu afogamento interior, que nenhuma fortuna pode curar. DiCaprio é exímio na sua entrega a este homem paranóico, com uma fobia ao germes, que constantemente o ameaça e quase o destrói. É com essa interpretação contida mas arrebatadora, que DiCaprio revela que nem todos os sonhos de Hughes se concretizaram, como a realização no amor. É em Katharine Hepburn que Hughes encontra a sua ligação ao mundo, ao real, à sanidade, ao amor. Cate Blanchett e DiCaprio estão brilhantes ao dar vida a esta ligação, marcada tantas vezes por pormenores subtis, mas carregados de significado. E é depois dessa relação condenada e da partida de Kate que Hughes se perde progressivamente na sua demência. É nessa luta interior constante que o espectador se situa, vendo para lá do visível e sentindo o que não se vê.

De tempos a tempos, surgem filmes assim, desta dimensão, desta qualidade e a Academia pode “apenas” decidir (mais uma vez) ignorar Martin Scorcese, não poderá roubar-lhe a eternidade. Ars longa, vita brevis.

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