sábado, 24 de novembro de 2007

Eyes wide shut de stanley kubrick


Kubrick desapareceu em 1999, mas deixou atrás de si um legado de inegável qualidade, que contribuirá para que seja lembrado, durante anos, sempre que se pensar em genialidade e bom cinema. Confirmando a sua excelência e a certeza de que teria muito mais para dar, está a sua última obra: Eyes Wide Shut.

Por detrás daquele que parece ser o mais brilhante e perfeito dos casamentos, vive-se um limbo entre a verdade e mentira e escondem-se os mais sombrios segredos. Depois de uma revelação de Alice, Bill desperta da sua perfeita mas adormecida existência e percebe que não só não conhece a mulher com quem vive, mas mais penosamente não se conhece a si. Inicia, por isso, uma viagem ao centro de si, marcada pela obsessão, pela desilusão e por revelações chocantes. Tom Cruise está exímio na interpretação deste homem que se vê de repente perdido e nu, perante a dura realidade, sem a protecção da máscara, que lhe ditava a perfeição. Nicole Kidman assina um dos mais brilhantes monólogos em cinema, revelando o seu interior e todos os seus lugares ocultos. A espiral asfixiante de acontecimentos e revelações é, muitas vezes, envolvida por sufocantes e tensas notas de um piano, da responsabilidade de Györgi Ligetti, conferindo ainda mais profundidade a esta viagem física e mental, com impulsos infantis ou decisões maduras.

A ironia que marca grande parte da obra dá bem conta da mestria de Kubrick. É, realmente, fascinante que para entrar no mundo de traição e infidelidade a palavra passe seja fidelio, que para dar valor ao acto de abrir os olhos, estes tenham que ter estado bem fechados, que para olhar o mundo ou a si próprio sem máscara, seja necessário usar uma.

Nenhum comentário: