quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Esplanada

Sento-me. Peço um café. Vejo como o sol aquece o passeio e deixa que a estrada permaneça na sombra, abrigada. Passa uma senhora, com uma cara simpática mas pensativa, talvez a pensar no que fará, essa noite, para o jantar. Atrás, uma mãe, segurando uma colorida mochila, ouve o filho que contava, animadamente, as aventuras do primeiro dia de aulas: em como fez uma rasteira àquele que se arma em bom nas aulas de História, em como caiu em si depois de o fazer e correu a toda a velocidade para a casa de banho, antes que o “bonzão” se conseguisse levantar. Emocionado, contava ainda em como arranjou coragem para levantar a saia da Maria, à saída da aula de Português, apesar de estar bem consciente que iria sofrer o resto do ano por causa da adrenalina do primeiro dia.


Mais à frente no passeio, seguia um homem alto, engravatado, que gesticulava enquanto falava ao telemóvel. Segundos depois e com um certo desespero estampado, levou a mão à testa e fez uma expressão “como me vou safar desta e ainda ganhar qualquer coisa com o negócio?”. Do lado oposto da rua, seguia uma velhota, provavelmente, a caminho do centro de saúde, onde era esperada pelas companheiras do costume, exímias conhecedoras de toda uma farmácia, dos mais escandalosos pormenores e das mais quentes novidades das famílias do bairro. À sua frente, caminhava uma jovem, de ar calmo, aspecto fresco, quase primaveril, que seguia embrenhada em pensamentos, desviando-se das pessoas apenas instintivamente, a sua mente estava longe. Mas onde quer que fosse, era um sítio agradável, que lhe concedia aquele brilho no olhar e lhe descobria um sorriso.


Mesmo à minha frente, passou um carro, conduzido por uma jovem acompanhada por uma amiga, quem sabe a sua cúmplice em anteriores proezas e falhanços. Cantavam as duas, divertidíssimas, um tema animado que a greta do vidro do carro deixou escapar. Reconheci a música e cantei também, entre dentes, até o carro desaparecer na curva. Sorri para mim mesma e notei que o café à minha frente estava já gelado. Olhei a rua à minha volta, talvez à procura de alguém numa esplanada, com um café frio à frente, a adivinhar a minha história. Sorri mais abertamente e deixei que o sol me aquecesse também.

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